ATOS DE EXISTÊNCIA: Navegar é preciso

Ato 2: Eliana Rebechi

Me deparei esses dias com esse texto (desconheço a autoria):

“conta-se que antigamente, em uma tribo, quando alguém chegava ao Xamã da aldeia se queixando de desânimo e falta de vontade de viver, o Xamã ao invés de iniciar um ritual de cura, fazia 6 perguntas:

– Quando você parou de dançar?

– Quando você parou de cantar?

– Quando você perdeu sua fé?

– Quando você deixou de se encantar com as estórias?

– Quando foi a última vez que você parou de apreciar o silêncio?

– Quando foi que você deixou de amar?”

Quando parei de dançar, me perguntei? Há muito tempo! me ouvi lamentando.

Por que parei de dançar?

Minha primeira suposição é que a vida adulta, cheia de “responsabilidades”, me disse que não há tempo para viver prazeres, e que o meu corpo deveria cumprir as expectativas de um corpo funcional. Mas, precisava mesmo parar de dançar? Por que é tão fácil assim renunciar ao que nos dá prazer?

Antes tarde, do que nunca! Redescobri há alguns meses a alegria do meu corpo em movimentar-se numa coreografia da alma.

E cantar? apesar de desafinar, de não saber a letra direito, eu cantava. Lembro que eu e meu sobrinho brincávamos de decorar as letras tão compridas da banda Legião Urbana, e cantávamos juntos noite adentro.

“Eu sei é tudo sem sentindo

Quero ter alguém com quem conversar

Alguém que depois não use o que eu disse, contra mim” (Renato Russo)

Ah! E a fé? Sinto que estamos correndo às cegas para um espaço sem saída. Às vezes perco a fé em mim mesma, nas minhas esperanças e na capacidade de sempre acreditar em recomeçar para ser melhor. Como conseguir confiar em um futuro quando vivemos uma pandemia, quando assistimos a natureza sendo destruída, o poder e o ódio acima de tudo?

Navegar é preciso! Buscar nossos recursos internos como ato de resistência.

Parei para pensar se deixei de me encantar com as estórias. Confio na minha percepção, jamais deixei de me encantar, de profundamente me sensibilizar. Mas, confesso me cansa a inércia, o conformismo. Me assusta a ausência de perspectiva, de lutar por um ideal, por um sonho. Tempos sombrios onde a morte ronda todos os espaços, nosso sono, nossos amores, nosso corpo que luta para se manter vivo.

Preciso ainda falar do silêncio e do amor. Quando meditamos recuperamos a possibilidade de ouvir o nosso silêncio, nos aconchegarmos nele e sentir o amor de forma incondicional, principalmente por nós mesmos, cuidando de nosso local de impotência, de dor, de desalento.

Busco o que me fortalece, na música, na arte, nos dias de sol e nos dias de chuva. Na alegria de um olhar amoroso, sincero, simples como a vida deve ser.

Caros, não adoeçam, reflitam sobre as perguntas do Xamã. Elas próprias já são um ritual de cura.

Retomem a alegria e a paz.

Equipe